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FASE EDUCADORA, A Saída da Educação Eclesiástica para a Educação Secular. O encontro com as Escolas Brasileiras no Japão.

(33 aos 43)

Ao fazer essa sequência da Jornada EmpreendeGoga, em vários momentos me surpreendi como o fio realmente é um grande contínuo onde os vários acontecimentos, por mais que os julguemos aleatórios, fazem parte da  construção do nosso ser.

Minha história com a educação é antiga. Sou filha de professora, sobrinha de professores, fui rodeada por professores e se tinha uma coisa que nunca almejei ser foi, professora.

 

Espera, preciso fazer um reparo. 

 

Lá pelos meus 6 a 8 anos de idade tive grandes momentos de lazer e pura diversão na Vila Mazza, na cidade de Suzano, SP. Nossas tardes depois da volta da escola, era, continuar a brincar de escolinha. A lousa era posta na varanda da vizinha e então nos revezamos entre quem ensinava e quem aprendia. Era até divertido quando então minha mãe tornou-se professora, já mãe de quatro filhos, e nossas tardes passaram a ser de ajudantes da professora, cortando, recortando, pintando, embalando…daí percebi que ser professora não era tão divertido assim e após uma experiência de participação numa greve de professores em São Paulo, na praça da República, a decisão foi em definitivo: jamais serei professora!

Olha, se há uma palavra traiçoeira nesta vida, esta é, sem dúvida, a palavra Jamais, ou como comumente usamos, Nunca! Jamais façam isso! Never say Never, never!

Fiz um teste vocacional escolar na adolescência e fiquei feliz em saber que tinha vocações sociais com grande possibilidade de ter carreiras como Servidora Social, Diplomata e Professora! Cogitei muitas coisas neste período: talvez advogada? Por realmente não suportar injustiças. Arquiteta? Construir sonhos…Aeromoça? Eu era baixinha. Presidente do Brasil? Olha eu pensando nas injustiças novamente. Faço uma pausa para pensar em que momento a questão social entrou forte em minha vida e lembro de um presente que ganhei aos 13 anos de idade mas que vou deixar em aberto aqui porque esta é uma história para a Fase Conselheira, onde relato como se deu meu envolvimento político. 

Eu quis sair da área da Educação mas esta me perseguiu até que eu me rendesse à ela. Então entro primeiramente na Educação Eclesiástica e posteriormente na Educação Secular, como assim chamamos.

Tornei-me professora da escola dominical aos 18 anos. Era a professorinha da Escola para Adultos. Totalmente envolvida pela eclésia e sempre com muita vontade de saber, aliar à prática o que vinha fazendo foi fácil e ampliar o conhecimento entrando para o seminário foi inevitável. Mas isso só se deu aos 29 anos de idade. E por que demorei tanto, talvez você possa estar se perguntando. Explico. Meu casamento aos 17 anos de idade trouxe-me méritos e deméritos e um deles foi a dificuldade em dar continuidade aos meus estudos por viver numa relação extremamente abusiva. Segundo meu parceiro, mulheres não deveriam ir à uma universidade, uma vez que esta poderia deturpar e corromper a sua mente. E então, a menina que era ávida pelo saber desde que se entende por gente, teve de passar por um longo período de submissão e omissão de si mesmo, até que ela se liberta aos 26 anos e depois de um hiato de 3 anos, resolve dar mais uma chance ao marido com a condição de que possa voltar a fazer o que mais gostava: Estudar! Por isso, minha primeira formação ocorreu somente após esse período da minha vida. E então, aos 29 anos, inicio o Seminário para cursar o Bacharel em Teologia e me delicio com todo o aprendizado que recebia, sempre numa postura questionadora e ávida pelo conhecimento. E sempre exercendo a função do ensino na ecclésia, seja nas aulas extras através de ensinamentos profundos como Uma Vida com Propósitos, ou aconselhando nos lares e sendo preletora nos púlpitos das igrejas. O Ensino esteve então de certa forma muito presente na minha vida, muito mais até do que imaginava.

No último ano do Seminário, com uma passagem de semi-internato no Brasil, retorno ao Japão e visando a volta do ensino religioso como matéria optativa na grade curricular, envio então meu currículo a algumas escolas brasileiras na região. E para minha surpresa, o retorno foi imediato. Não para o Ensino Religioso, mas para que assumisse algumas disciplinas que jamais cogitaria em dar aula, um dia. Uma escola me convidou para dar aula em português mesmo não tendo formação na área e, muito embora, não tenha um português ruim (sobrinha de professora de português) entendi que seria justo recusar uma vez que não seria justo com os próprios alunos. 

Já outra escola, olhando meu histórico, ofereceu-me as aulas de humanas, naquela ocasião, mais precisamente, a Geografia. Fiquei inclinada, gostava da disciplina, mas ao mesmo tempo, me perguntei se daria conta, especialmente em se tratando da Geofísica. 

E aqui abro um parênteses para dizer o quanto a Geografia é uma disciplina interessante, ao mesmo tempo você tem a impressão de estar estudando História (Geopolítica), Economia, Ciências (Geofísica) e Estatística numa única matéria. E é bem isso! Costumo dizer que a Geografia, muito mais que o estudo da Terra, estuda sobretudo, o habitante dela.

Nesse momento, conhecer o professor ao qual eu substituiria foi essencial. Ele também não tinha uma formação específica na área e me tranquilizou ao dizer que estaria ao meu lado para me ensinar a ensinar e que seria o suporte que eu precisava para trilhar esse caminho. Eu aceito. Passo uma semana estagiando com ele, até que, enfrento, pela primeira vez, uma sala de aula cheia de adolescentes para lecionar Geografia.

Interessante pensar como se dá o aprendizado. 

Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender.

Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia).

E lendo e relendo a frase extraída de Paulo Freire, sou imensa gratidão por entender que ao me colocar numa posição de professor, muito mais eu aprendi do que realmente ensinei porque quem ensina aprende ao ensinar.

Por isso, uma vez aceite o desafio e à medida que ia superando, vinham mais e mais e tantos outros desafios. Em pouco tempo já não era mais a Geografia mas a Filosofia, a Sociologia, as Ciências Sociais e por fim, a temida, História. E como todo o professor da área de Humanas, Humanas e afins para quem perguntasse. 

Quero me ater a esse assunto em outro momento numa Aula intitulada, Ensine e então Aprenda, no entanto, não poderia deixar de exibir aqui a famosa Pirâmide de Aprendizagem de William Glasser que demonstra como ser professor de algo é uma dádiva uma vez que você tem 95% de eficácia no aprendizado quando, entre outras coisas, você explica o que estudou.

Fonte: Faculdades Borges de Mendonça

 

E assim, na comprobalidade de Glasser, que se seguiu minha vida nesta década em que fui professora de escolas brasileiras no Japão, no trânsito entre o aprender e o ensinar ou vice e versa. 

Foram noites e dias e madrugadas mergulhadas em livros e livros e mais livros. E à medida que bebia da fonte, a insaciedade era cada vez maior, sempre com o desejo de ser e fazer o melhor em sala de aula. Um ano após iniciar em sala de aula, me qualifico para cursar Pedagogia, no Japão, semipresencial, em Hamamatsu.

A Licenciatura em Pedagogia vem então num momento crucial, no auxílio da didática para ter mais efetividade neste ato do Ensino. E você perceberá uma constante interessante em minha vida: primeiro a prática, depois a teoria. Foi assim como Bacharel em Teologia e assim também com Pedagogia.

Fazer parte deste grupo que teve esse grande privilégio de ser a primeira e única turma da Licenciatura Plena em Pedagogia pelo Acordo Brasil-Japão é um privilégio sem igual, uma vez que não foi como qualquer curso da área. O Acordo bilateral Brasil-Japão tratou-se de um acordo entre duas grandes universidades: a UFMT (pioneira no ensino EAD) e a Universidade Tokai, pioneira em Comunicação aqui no Japão. A ideia surgiu quando numa visita ao Japão, em Maio de 2005, o então presidente Lula tomando conhecimento da realidade das Escolas Brasileiras no arquipélago, se sensibilizou e promoveu o acordo para a capacitação de mais de 300 pedagogos formados pelas duas instituições. O primeiro-ministro na ocasião era o Koizumi e o Programa deu início em 2009. 

Aproveito para dizer que essa fase da minha vida também marca minha entrada na política em paralelo com a Educação, e será justamente na Fase Conselheira que você poderá ler mais a fundo minha participação, especialmente atuando na Educação dos Brasileiros no Exterior.

E é também durante a minha formação que tenho o primeiro contato com a Pedagogia Waldorf. Participei de um grupo paralelo chamado Aliança pela Infância Multicultural, liderado por nossa coordenadora Shigueyo Mizoguchi, onde semanalmente víamos conteúdos teóricos e práticos numa agenda que durou aproximadamente, dois anos. Mas aí, já é outra história!

Por ora, me despeço.

Nos vemos na próxima!

 

Obs: Se você foi meu aluno e deixei algo a desejar no início da carreira peço desculpas, eu também estava aprendendo. Mas a você que acredita que de certa forma, fiz alguma diferença em sua vida, gratidão, você me fez entender que realmente todo o sacrifício vale à pena. Aos meus amigos mestres que me acompanharam no início da jornada, gratitude!

Referências Bibliográficas:

https://www.bm.edu.br/piramide-de-aprendizagem/

http://toquio.itamaraty.gov.br/pt-br/historias.xml

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